roaming
É uma ligação. Tem de se dizer algo. Compartilhar silêncios é brinquedo para perto . Há um desejo de não desligar. Gosto tanto de você, mas não sei o que dizer. A meteorologia erra. E se eu te contar da chuva,você sair de capa e não chover? É que eu disse pra você acreditar sempre em mim.
Eu não tenho assunto, mas tenho saudade. Porque o que quero lhe dizer não são palavras, são antes, desmotivos de um coração inquieto. Eu não tenho o que contar. Não por telefone. É que dentro de mim, ecoam uns sinais de alerta, prenúncios gerados pela fragilidade que se encerra nos desejos profundos de acerto; querer acertar é estar à beira do abismo do erro, eu sei. Eu te contei na outra noite esse meu pensamento, mas você, igualmente, já sabia. Posso perguntar se você sentiu a minha falta, mas a verdade é que não importa. Importa é te saber ali, ao fone. Você, materializado em minhas mãos. Não desligue ainda. A sua respiração me conta dos poros, das seivas, da respiração do outro lado da linha. É que se você desligar, nossos silêncios serão novamente apartados pela distância e voltarão então a ser só o que parecem, silêncios. Mas o que eu queria dizer mesmo, para resumir essa longa ligação, é do quanto me calo, por querer dizer tudo o que as palavras não expressam. Por querer dizer que gosto de você tanto quanto é possível. Você está em mim entre cada porção de matéria que há entre o tudo e o nada. Mas como eu disse, para o que eu quero dizer não há palavra.
Desliga então, amor. Estou descendo as escadas. Vou te contar com beijos o que as palavras, por não saberem como fazer, segredam.