"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




segunda-feira, 17 de maio de 2010



roaming






É uma ligação. Tem de se dizer algo. Compartilhar silêncios é brinquedo para perto . Há um desejo de não desligar. Gosto tanto de você, mas não sei o que dizer. A meteorologia erra. E se eu te contar da chuva,você sair de capa e não chover? É que eu disse pra você acreditar sempre em mim.

Eu não tenho assunto, mas tenho saudade. Porque o que quero lhe dizer não são palavras, são antes, desmotivos de um coração inquieto. Eu não tenho o que contar. Não por telefone. É que dentro de mim, ecoam uns sinais de alerta, prenúncios gerados pela fragilidade que se encerra nos desejos profundos de acerto; querer acertar é estar à beira do abismo do erro, eu sei. Eu te contei na outra noite esse meu pensamento, mas você, igualmente, já sabia. Posso perguntar se você sentiu a minha falta, mas a verdade é que não importa. Importa é te saber ali, ao fone. Você, materializado em minhas mãos. Não desligue ainda. A sua respiração me conta dos poros, das seivas, da respiração do outro lado da linha. É que se você desligar, nossos silêncios serão novamente apartados pela distância e voltarão então a ser só o que parecem, silêncios. Mas o que eu queria dizer mesmo, para resumir essa longa ligação, é do quanto me calo, por querer dizer tudo o que as palavras não expressam. Por querer dizer que gosto de você tanto quanto é possível. Você está em mim entre cada porção de matéria que há entre o tudo e o nada. Mas como eu disse, para o que eu quero dizer não há palavra.

Desliga então, amor. Estou descendo as escadas. Vou te contar com beijos o que as palavras, por não saberem como fazer, segredam.




terça-feira, 11 de maio de 2010

désir





Língua na orelha excita.

Dedo excita.

Saliva, a língua.

Umbigo,

teus pêlos.

Sussurro.

Amor excita.




segunda-feira, 10 de maio de 2010

Incauta




Por você corro todo o risco.

Corro-o inteiro, de ponta a ponta.

De maneira pueril e afoita

Desde que a lua não passe

Teu calor não tarde

E a tal linha-risco-rabisco

Seja sempre

Mais doce que simétrica

Mais cor que esse azul

Mais infinita que o perigo de amar.



sábado, 8 de maio de 2010

Sobre o que quero contar




Quero comentar o que vai na paisagem. O que fica por baixo, por trás e fora dela. Esse ano fiquei prolixa. Caibo menos em versos que outrora. E se por um lado, o verso curto me abandona, por outro ainda sobeja o sentimento. Mas esse ano – que coisa – estou prosa. Não só prosa, é verdade mas, mais prosa. Esse ano estou é louca. Cabendo pouco no meu cenário. Mas minha convenção neste presente é estar liberta, desperta. Que me venham novos momentos, água por cima e por baixo da ponte; me sei presente e o que faço agora é sentimentear palavras. Quero escrever, deixar expresso. Quero, através da rota escrita, voltar a brincar de ser perene.
É que escrever, sempre termina por me alinhar com o infinito.



quinta-feira, 6 de maio de 2010

2010






 

O universo manda reformular paisagens.



 

quarta-feira, 5 de maio de 2010

2009






Estive um ano fora. Ruas, estradas, todas elas me levaram para fora de mim. Percorri distâncias enormes e ao fim, o que encontrei fui eu, insone e dispersa, quase assim vencida, quase assim fingindo. O tilintar dos copos não anunciava mais brindes mas sim, mais uma noite sem poesia. Da lida, distanciou-se o poema, a forma, o espanto e o que em mim, me diferenciava. Aprendi certas verdades inúteis, apreendi certas vontades vazias. À espreita, nas esquinas escuras da linda São Paulo, Nietzsche me dizia que eu não morreria. Acreditei nele e hoje estou aqui, mais forte. Entre as rochas, surgiram sim algumas flores, e destas, brotaram sementes: sou terra fértil. E agora, quase estranha à folha branca de papel, me pego tímida, pouco afeita ao sentir. Estive um ano fora. Trago histórias para contar. Algumas não conto por agora; deixo em descanso, para que fiquem mais belas com o passar do tempo, com o retoque perfeito que a lembrança dá a certas passagens, certas paragens. Estive um ano fora. E eu não sei quem vence em mim, se o dia manso ou a noite escura, mas de mim não fujo:

de mim, não saio mais.