"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O círculo







A vida é uma só.
Nós, somos mais.
O plural nos conhece
nos espreita e confia
somos término, linha e aurora.
Acabamos e renascemos
carregando a triste sina de esquecer.
Outras vezes a triste sina de lembrar.
Nascemos da nossa quimera
do olhar do nosso irmão
do bem e do mal que fazemos.
Partimos
Deixamos
Seguimos


Continuamos.


Estamos a caminho de casa
esculpir o peito dói e dá prazer
somos o que ousamos.


O olhar sobre a lâmina em riste
somos nosso medo
e a sabedoria que levamos.


Somos eternos renascentes
Não estamos no fim
Não estamos no começo.


Somos um ciclo temporário.


Breve, leve





Respiro,
escrevo.

Sou palavra além de mim.

Cada arfar,
uma rima.

Cada poro,
uma letra.

Transcrevo meus sonhos.

Por entre os dias,
não vivo:
antes,

poemo.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Para onde


Não lembro mais quais eram os planos. Mas a vida muda de maneira tão fantástica que hoje, tanto faz. Eu mudei, a ciranda mudou, e por baixo da ponte antiga que outrora servira de esteio, não há nada a não ser o novo. Você mudou, seu olhar autóctone também. Não guardei as cartas, as resoluções vencidas. Que bom, de nada me servem nessa madrugada também quase ida. A dureza trata de dar forma ao tempo, mas é a delicadeza quem esculpe as linhas mais expressivas, as mais eternas. O que havia para nós é muito menos do que o que temos hoje. Resta apenas resvalar-me entre teus dedos com a idéia de que, distraídos, chegaremos além. Não eram estes os planos, tampouco éramos nós os de hoje. Uma alegria leve como chuva fina ao descobrir-se sem trilhos, seguindo, entretanto, a trilha. O rastro que deixamos será essa coleção de histórias de amor e desamor, de brilho, atenção, quebra, cuidado, anseio, fome. Saciada e não. É isto o que nos espera. Planos não acompanham nosso ritmo de mudar tanto o coração. O único plano agora é seguir a vereda para onde aponta o teu olhar, que é para onde olha o meu coração, tão cansado de planos que agora decidiu apenas seguir as batidas doces do teu.