"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




segunda-feira, 25 de outubro de 2010

d’urgence



Não sei esperar com paciência. Não tenho essa desenvoltura. Não sei olhar o tempo e saber que tudo tem seu tempo. Olho o relógio, que parece-me absurdamente errado. Quisera eu ter outro ritmo, entender o ritmo das coisas que vão além de mim. Você demora a chegar. São tantos dias, serpenteados por tantas noites, que eu já não sei quanta falta, quanta aurora pra um dia de paz, sossegada em teu peito. Meu querer sussurra um desejo, uma fome.
E acontece que eu canso e desisto de um tudo. E, como Drummond, sei que não me ama mais, que nunca me amaste em verdade. Sou tão urgente, amor. Falta freio, uma parada, uma placa de aviso, um olhar de soslaio. Não quero esperar, amor. Nem pelo dia certo, nem pela hora exata, o feriado, a conjunção dos astros, a combinação de agendas. Não quero ser comedida, ser sensata, madura, saber esperar, aprender a amar de longe. Quero ser a doida, a insensata, a dos solavancos, a dos desvarios. Não ambiciono mais a alva paz dos sentidos.
Passo uma vida me aplainando, aprendendo a me moldar na minha dissonância. Gasto cem anos aprendendo a oferecer a outra face, mil anos para entender tempestades, a eternidade lapidando a jóia em meu peito.
Mas amar, amor,
amar
é sempre
pra ontem.