"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




segunda-feira, 26 de setembro de 2011

allegro moderato




Em tons de jasmim e escarlate
dançava o sol na varanda
Rabiscos inundavam o quarto
paredes, janela e cortina
Palavras bailando púrpura
pra desinventar solidão
Sombras azuis na parede:
cor e/ou grafias.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

www




Ele escrevia textos sem destino. Não havia dedicatórias, nomes ou lampejos que lembrassem sua musa. Mas ela se sabia lá. Ela os lia todas as noites e adormecia acarinhada de suas palavras. Vestia-se toda com as pequenas estrelas que brotavam dos pontos finais intencionalmente desbotados e que, na verdade, não ensejavam nunca um fim, mas sempre novo começo. Era a comunicação, a ponte invisível entre eles. Não se falavam nunca, como o fazem quaisquer em mesas de bar e balbúrdia, em sofás de sala de estar. Não havia o que dizer diretamente; palavras para dizer de outro assunto que não fosse aquele, implícito, tornavam-se completamente desnecessárias. Sobejavam até. O que importava era repetir eu te amos de todas as formas possíveis, com todas as palavras existentes, num jogo infindável, aberto a todos, mas só pertencente a eles.
Era assim o amor dos dois, dizendo tudo, calando pouco, falando como se fosse ao léu, como se fosse à toa mas não. Letras de amor escancaradas entre ambos, já que as linhas tinham dona. Ela sabia disso, e ele também.
Era assim que conversavam, que se compreendiam. Por entre as linhas e as noites. Linhas à queima-roupa, de rima outra e prosa pouca contando muito. Declarações de amor lançadas no azul, displicentemente esquecidas onde nasceram para estar.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Infinito






Procuro-me há anos

Ando em círculos

Arranco, atravesso.

Viajo distâncias intergalácticas

de esquina a esquina.

Descanso, me atraso

Daqui já não me vejo mais.

Torno a me olhar no espelho

há então outro semblante

mais calmo, sereno.

Um rosto novo a me contar

que o meu começo é em mim.

O fim não.

E, por isso, continuo.