"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




segunda-feira, 25 de abril de 2011

Maratona de Folias*

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Sobrevivência


Anotações após o espetáculo "Medida por Medida".

Não dividam o mundo
entre mocinhos e bandidos.
Não extingam, sobretudo,
os maus.
(Neste mundo intratável,
os bons têm sempre
um macete ou dois
a aprender com eles.)


Dor de Dente


Anotações após o espetáculo "Nunzio".

Algumas pessoas
são doces demais.
Dóceis demais.
Conversas débeis e senões,
corações vermelhos, ansiosos,
o músculo tenso, pulsado como louco.
Certas doçuras
desmantelam e oprimem.
(Haja ópio.)


Lado a lado


Anotações após o espetáculo "Medéia".

Todo mundo julga
Todo mundo acusa
Violência dá ibope
Já nos saraus vai pouca gente.

Mesmo assim, senhores,
Apostas!
Minhas fichas, na poesia.

(Porque o mundo agora dorme.
Mas eu acredito
é nele desperto.)


Cordial


Anotações após o espetáculo "A Dócil".

Verter do frágil
pode causar falta fatal de lisura.
Arquétipo mortal de candura:
na áspera vertigem dos dias
há que se ter atrito
entre a alma e a vida
há que se queimar
reinventar o fogo.

Há que se saber
das ranhuras-escaras,
fazer fricção:

entre a fé e a coragem,
entre o acerto e o não,
entre o pavio e a centelha,
entre a terra sob os pés e, às vezes,

a inesperada falta de chão.



*Mostra "O Homem Cordial", do Grupo Folias.



2 comentários:

J.F. de Souza disse...

Luzinha qrida! Gostei demais dos 4! =)

=*

J.F. de Souza disse...

sabe? comecei a pensar... (uia!)
esses saraus, onde vai pouca gente, compõem os eventos sociais mais democráticos que conheço.
me pergunto se isso se deve ao fato de a gente ser pouca.