"Sim, senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam. Prosterno-me diante delas. Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as. Amo tanto as palavras. As inesperadas." P. Neruda.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

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Ele escrevia textos sem destino. Não havia dedicatórias, nomes ou lampejos que lembrassem sua musa. Mas ela se sabia lá. Ela os lia todas as noites e adormecia acarinhada de suas palavras. Vestia-se toda com as pequenas estrelas que brotavam dos pontos finais intencionalmente desbotados e que, na verdade, não ensejavam nunca um fim, mas sempre novo começo. Era a comunicação, a ponte invisível entre eles. Não se falavam nunca, como o fazem quaisquer em mesas de bar e balbúrdia, em sofás de sala de estar. Não havia o que dizer diretamente; palavras para dizer de outro assunto que não fosse aquele, implícito, tornavam-se completamente desnecessárias. Sobejavam até. O que importava era repetir eu te amos de todas as formas possíveis, com todas as palavras existentes, num jogo infindável, aberto a todos, mas só pertencente a eles.
Era assim o amor dos dois, dizendo tudo, calando pouco, falando como se fosse ao léu, como se fosse à toa mas não. Letras de amor escancaradas entre ambos, já que as linhas tinham dona. Ela sabia disso, e ele também.
Era assim que conversavam, que se compreendiam. Por entre as linhas e as noites. Linhas à queima-roupa, de rima outra e prosa pouca contando muito. Declarações de amor lançadas no azul, displicentemente esquecidas onde nasceram para estar.


Um comentário:

Anônimo disse...

é...é assim o amor...